Sunday, November 18, 2007



A minha passagem pelo EFFE (European Film Festival do Estoril) foi curta. No máximo, durou cinquenta minutos: dez para estacionar o carro, um para dar com o Centro de Congressos e cinco para me conseguir sentar - tarefa nada fácil num auditório com quatrocentas pessoas espalhadas por cadeiras, degraus; encostadas às paredes e passagens impedidas por câmaras, staff e pessoas pessoas pessoas...

Enfim. E os outros trinta e nove minutos? Foram passados em fascínio e admiração, e, devo confessar, alguma perplexidade. David Lynch - pintor, realizador de cinema, argumentista, escritor, produtor musical - deslocou-se ontem até ao Estoril para dar uma masterclass aberta sobre 'Vida, Arte e Meditação Transcendental'. A 'aula' deu-se na sequência de uma retrospectiva da série 'Twin Peaks', que esteve em exibição no Casino Estoril. Além do realizador, a masterclass contou com a presença de Paulo Branco, produtor de cinema e organizador do festival, Julee Cruise, a cantora da banda-sonora do Twin Peaks, e Rui Pedro Tendinha, jornalista e crítico de cinema.

O tom da palestra foi de diálogo, o público fazia as perguntas e Lynch respondia no seu jeito meio marado (mas curiosamente coerente), a tudo o que lhe lançavam. Houve espaço para falar de tudo - cinema, realização, meditação, técnicas de filmagem; pediram-se explicações acerca dos filmes e fizeram-se elogios.

Lynch falou do seu profundo interesse pela meditação, como acredita que pode ser um meio para combater a apatia e stress actuais e a importância de integrá-la na educação. Apresentou o seu projecto de criar universidades de meditação pelo mundo a fora (algumas ja foram inauguradas) e, na mesma linha, falou assertivamente na possibilidade de exteriorizar o inconsciente pela meditação.

Em relação ao trabalho como realizador: " one day I had an idea, I went out with my Sony P150 and I shot it. The next day, i had another idea, unrelated with the first one, and I went out, took my Sony P150 and shot it. The next day, I had another idea, unrelated with the ones before, and I went out with my Sony P150 and shot it. Then got an idea to relate these three ideas...".
Ao descrever o processo criativo, disse que os seus filmes são simplesmente como a vida, pode-se " rir de manhã e chorar à tarde, ver uma coisa completamente absurda no meio do dia...a vida é assim". Cada um dos espectadores pode interpretar cada filme à sua maneira, mas para Lynch o filme já é um pacote finalizado e completo. A reacção das pessoas é com elas. Apesar disto, foi-se rindo ao ouvir os comentários dos presentes, que em certas alturas não resistiram a pedir alguma confirmação das interpretações próprias sobre o 'Mulholland Drive' e o 'Inland Empire'.
A própria Julee Cruise perguntou se ele alguma vez tinha planeado ser produtor de música, ao que ele respondeu que não, que simplesmente foi acontecendo.

No fim da masterclass, David Lynch agradeceu e despediu-se discretamente, muito 'cool' enquanto a plateia, de pé, batia palmas atrás de palmas.

Cá fora, fumava-se, conversava-se animadamente - as bancadas de merchandising (muito caro), cheias de pessoas à volta - e tentava-se perceber por onde o Sr.Lynch ia sair. Passados uns minutos, apareceu com a sua comitiva pelo meio das pessoas e encaminhou-se calmamente para o carro.



Dois ou três autógrafos e muitos 'flashs' depois, entrou no carro. Lá consegui a minha fotografia, tirada com o telemóvel, e voltei para casa mais que satisfeita.