Uma pequena selecção de poemas de ... amizade .
Luís Miguel Nava (1957-1996)
PAIXÃO
Ficávamos no quarto até anoitecer, ao conseguirmos
situar num mesmo poema o coração e a pele quase podíamos
erguer entre eles uma parede e abrir
depois caminho à água.
Quem pelo seu sorriso então se aventurasse achar-se-ia
de súbito em profundas minas, a memória
das suas mais longínquas galerias
extrai aquilo de que é feito o coração.
Ficávamos no quarto, onde por vezes
o mar vinha irromper.
É sem dúvida em dias de maior
paixão que pelo coração se chega à pele.
Não há então entre eles nenhum desnível.
Ângelo de Lima (1872-1921)
Eu ontem vi-te...Andava a luz
Do teu olhar,
Que me seduz
A divagar
Em torno a mim.
E então pedi-te,
Não que me olhasses,
Mas que afastasses,
Um poucochinho,
Do meu caminho,
Um tal fulgor
De medo, amor,
Que me cegasse,
Me deslumbrasse
Fulgor assim.
José Gomes Ferreira (1900-1985)
Dá-me a tua mão.
Deixa que a minha solidãoprolongue mais a tua—
para aqui os dois de mãos dadasnas noites estreladas,
a ver os fantasmas a dançar na lua (...)Fernando Pessoa (1888-1935)
POESIA
Dá a surpresa de ser.
É alta, de um louro escuro.
(Se ela estivesse deitada)
Sem ter que haver madrugada.
Sobre a saliência do flanco
Do seu relevo tapado.
Apetece como um barco.
Tem qualquer coisa de gomo.
Ó fome, quando é que eu como?
-Bachelorette, Bjork
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